Anestesia e termorregulação: como evitar a hipotermia no inverno

Anestesia e termorregulação

Durante o inverno, as baixas temperaturas representam um desafio adicional nos centros cirúrgicos. Nessas condições, pacientes anestesiados perdem a capacidade de regular a própria temperatura, o que eleva substancialmente o risco de hipotermia.

A relação entre anestesia e hipotermia é motivo de atenção, pois o resfriamento corporal durante procedimentos pode comprometer a recuperação, favorecer complicações e prolongar a internação hospitalar.

Neste artigo, você vai compreender como a anestesia interfere nos mecanismos de termorregulação, entender os riscos associados à hipotermia perioperatória e conhecer as estratégias que os profissionais da saúde devem adotar para prevenir esse problema, sobretudo nos meses mais frios.

O que é a hipotermia perioperatória?

Define-se como hipotermia perioperatória a condição em que a temperatura central do corpo atinge níveis inferiores a 36 °C durante ou logo após a realização de uma cirurgia. Embora pareça um quadro leve, mesmo uma pequena redução térmica já pode impactar negativamente diversas funções fisiológicas.

Adicionalmente, a exposição prolongada ao frio — combinada aos efeitos da anestesia — acelera a perda de calor corporal. Como consequência, o paciente torna-se mais vulnerável a infecções, hemorragias e atraso na recuperação pós-cirúrgica.

Entenda mais sobre Hipotermia perioperatória

Como a anestesia favorece a hipotermia?

Os agentes anestésicos — tanto os de uso geral quanto os regionais — interferem diretamente nos mecanismos de controle térmico do organismo. Especificamente na anestesia geral, há uma inibição do centro termorregulador localizado no hipotálamo, o que impede reações compensatórias como os tremores e a vasoconstrição.

Por sua vez, a anestesia regional (como a raquidiana e a peridural) compromete a percepção de temperatura em determinadas áreas do corpo, dificultando respostas locais adequadas à perda de calor.

Além desses efeitos, a anestesia promove vasodilatação periférica. Esse fenômeno redistribui o calor do núcleo corporal para as extremidades, favorecendo a dissipação térmica, mesmo em ambientes com temperatura controlada.

Por que o inverno exige mais atenção?

Durante os meses frios, a diferença entre a temperatura corporal e a do ambiente torna-se mais acentuada. Esse contraste intensifica a perda de calor durante os procedimentos cirúrgicos. Ainda que a sala esteja climatizada, o contato com superfícies metálicas frias, instrumentos cirúrgicos gelados e a ventilação do ar condicionado contribuem para o resfriamento do paciente.

Outro fator importante é que o inverno afeta mais intensamente grupos vulneráveis, como idosos, crianças e pacientes com fragilidade clínica. Dessa forma, os cuidados relacionados à termorregulação devem ser intensificados nesta estação.

Saiba mais sobre os cuidados da anestesia em pacientes idosos

Complicações da hipotermia no pós-operatório

A manutenção da temperatura corporal dentro da faixa ideal é crucial para evitar complicações. As principais consequências da hipotermia incluem:

Infecções: a baixa temperatura reduz a eficácia da resposta imunológica ao comprometer a atividade dos leucócitos.

Distúrbios de coagulação: o frio interfere na função das plaquetas e das enzimas envolvidas na coagulação, aumentando o risco de sangramento. 

Atraso na metabolização de anestésicos: o metabolismo mais lento dificulta o despertar do paciente. 

Desconforto físico: calafrios, dor e sensação de frio são queixas frequentes. 

Maior tempo de internação: complicações exigem mais cuidados, o que impacta diretamente na recuperação e nos custos hospitalares.

Diante desse cenário, a prevenção da hipotermia deve ser uma prioridade compartilhada por toda a equipe cirúrgica.

Estratégias de prevenção

Felizmente, diversas medidas podem ser adotadas para reduzir os riscos relacionados à anestesia e à hipotermia. Veja, a seguir, as principais práticas recomendadas:

Iniciar o aquecimento no pré-operatório

Sempre que possível, aqueça o paciente antes do início da cirurgia. O uso de cobertores térmicos ou sistemas de ar quente forçado contribui significativamente para a manutenção da temperatura corporal desde os primeiros momentos. 

Aqueça os fluidos intravenosos

Soluções administradas em temperatura ambiente provocam resfriamento interno. Portanto, é fundamental aquecer os líquidos intravenosos antes da infusão, principalmente em procedimentos prolongados. 

Controle rigorosamente a temperatura da sala cirúrgica

De acordo com normas técnicas, a temperatura do centro cirúrgico deve ser mantida entre 21 °C e 24 °C durante o inverno. Embora possa gerar desconforto à equipe, esse controle térmico beneficia diretamente o paciente. 

Reduza a exposição corporal

Durante a cirurgia, evite deixar extensas áreas do corpo descobertas. Utilize campos cirúrgicos para proteger regiões não envolvidas diretamente no procedimento e, assim, minimizar a perda de calor. 

Monitore continuamente a temperatura

O uso de sensores esofágicos, nasofaríngeos ou timpânicos permite o acompanhamento preciso da temperatura do paciente. Dessa forma, é possível intervir prontamente diante de qualquer queda térmica. Quem corre mais risco?

Alguns pacientes apresentam maior susceptibilidade à hipotermia. Entre os principais grupos de risco estão:

Idosos: possuem menor capacidade de conservação do calor corporal.

Crianças e recém-nascidos: apresentam alta relação superfície/massa corporal, o que favorece a perda térmica. 

Pessoas com doenças crônicas: condições como desnutrição, distúrbios hormonais ou alterações neurológicas comprometem a resposta ao frio. Pacientes submetidos a cirurgias longas ou complexas: há maior tempo de exposição e utilização de fluidos frios.

Reconhecer esses perfis é essencial para adotar estratégias preventivas mais rigorosas.

O papel da equipe multidisciplinar

A responsabilidade pela manutenção da normotermia não deve recair unicamente sobre o anestesiologista. Enfermeiros, cirurgiões, técnicos e auxiliares também desempenham papel crucial nesse processo. A atuação integrada da equipe é fundamental.

Além disso, a criação de protocolos bem definidos, o treinamento contínuo da equipe e a verificação periódica dos equipamentos são iniciativas que fortalecem a segurança do paciente.

A associação entre anestesia e hipotermia exige atenção redobrada, especialmente no inverno. A queda da temperatura corporal, ainda que discreta, interfere negativamente na recuperação e no desfecho cirúrgico.

A boa notícia é que a prevenção é viável e acessível. Medidas como aquecimento ativo, controle ambiental e monitoramento constante fazem toda a diferença. Ao implementá-las de forma sistemática, clínicas e hospitais demonstram não apenas competência técnica, mas também um compromisso ético com o bem-estar do paciente.

Conheça mais sobre o nosso trabalho: a Anesth Solutions é uma empresa de excelência em anestesiologia e gestão de saúde para clínicas e hospitais.

Responsável Técnico

dr Gustavo Brocca Moreira

CRM: 166944

RQE: 80595

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