Anestesia e saúde mental: investigando efeitos cognitivos

Anestesia e saúde mental: investigando efeitos cognitivos

A anestesia, sem dúvida, representa uma das maiores conquistas da medicina moderna. Como resultado, médicos realizam procedimentos cirúrgicos complexos com mais segurança e conforto para os pacientes. Além disso, com o avanço das técnicas anestésicas e a introdução de novos fármacos, esses procedimentos tornaram-se progressivamente mais seguros. No entanto, conforme a população envelhece e o número de cirurgias aumenta, cresce também a preocupação com os possíveis efeitos cognitivos da anestesia, especialmente entre os idosos.

Diante desse cenário, este artigo examina a relação entre anestesia e saúde mental, com foco nos efeitos cognitivos pós-operatórios, à luz de estudos recentes.

O que é a disfunção cognitiva pós-operatória (DCPO)?

A disfunção cognitiva pós-operatória (DCPO), em geral, caracteriza-se por alterações em funções como memória, atenção, velocidade de processamento e aprendizado após intervenções cirúrgicas. Essa condição pode se manifestar dias ou semanas após o procedimento. Embora muitas vezes temporária, ela pode persistir por meses, sobretudo em pacientes com fatores de risco.

Pesquisadores estimam que até 40% dos idosos submetidos a cirurgias de grande porte apresentem algum grau de disfunção cognitiva nas primeiras semanas após o procedimento. Embora, na maioria dos casos, seja temporária, ela pode persistir por meses, especialmente em pacientes com fatores de risco.

De acordo com estudos recentes, pesquisadores estimam que até 40% dos idosos submetidos a cirurgias de grande porte apresentem algum grau de disfunção cognitiva nas primeiras semanas após o procedimento. Além disso, essa condição compromete não apenas o aspecto clínico, mas também a qualidade de vida, a autonomia e até a reintegração social e profissional dos pacientes.

Saiba mais sobre Disfunção cognitiva pós-operatória

Principais fatores de risco da anestesia

Diversos elementos podem aumentar o risco de desenvolver DCPO. A seguir, destacam-se os principais:

  • Idade avançada: Indivíduos com mais de 65 anos têm maior propensão a apresentar alterações cognitivas após a anestesia, em razão da redução da reserva cognitiva e da neuroplasticidade.
  • Tipo e duração da anestesia: Anestésicos voláteis como sevoflurano e isoflurano associam-se a possíveis alterações cognitivas, principalmente quando utilizados por períodos prolongados.
  • Condições pré-existentes: Pacientes com histórico de doenças neurológicas (como Alzheimer e AVC) ou transtornos psiquiátricos (como depressão e ansiedade crônica) apresentam risco aumentado.
  • Complicações intraoperatórias: Ocorrências como hipotensão, hipóxia, hiperglicemia ou desequilíbrios eletrolíticos podem comprometer a perfusão cerebral, favorecendo disfunções cognitivas.
  • Nível educacional e reserva cognitiva: Pessoas com menor escolaridade parecem ser mais vulneráveis aos efeitos cognitivos da anestesia.

O que revelam as evidências científicas sobre a anestesia e os efeitos cognitivos?

Estudo sobre anestesia geral em idosos

Pesquisadores da Revista Brasileira de Anestesiologia (RBA) avaliaram os efeitos da anestesia geral na memória e cognição de idosos, utilizando instrumentos como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Os resultados mostraram ausência de diferenças estatísticas significativas entre os grupos, sugerindo que, em idosos saudáveis com anestesia bem conduzida, os efeitos cognitivos tendem a ser reversíveis ou inexistentes.

Veja o estudo completo aqui .

Avaliação da indução com sevoflurano

Outro estudo experimental publicado na RBA comparou o uso isolado de sevoflurano e sua associação com óxido nitroso. Observou-se uma leve alteração na memória de curto prazo imediatamente após a anestesia, mas os testes seguintes indicaram rápida recuperação cognitiva em adultos saudáveis. (estudo completo aqui).

Percepção dos anestesiologistas

Uma pesquisa com anestesiologistas em Portugal, também publicada na RBA, mostrou que 70% reconhecem a importância de avaliar o risco de DCPO. No entanto, apenas uma minoria realiza testes cognitivos pré-operatórios regularmente, o que revela a necessidade de maior capacitação e adoção de protocolos baseados em evidências. Leia o artigo completo

Como minimizar os efeitos cognitivos da anestesia?

Avaliação cognitiva pré-operatória

Ao realizar testes cognitivos antes da cirurgia, médicos conseguem identificar pacientes com risco aumentado e acompanhar sua evolução pós-operatória. Ferramentas como o MEEM e o MoCA são práticas e eficazes, e auxiliam nas decisões anestésicas.

Escolha criteriosa do anestésico

A seleção do agente anestésico influencia diretamente o risco de DCPO. Segundo especialistas da Anesth Solutions, substâncias como propofol e sevoflurano mostram menor associação com disfunções cognitivas. Apesar disso, a necessidade de mais estudos comparativos permanece.

Monitoramento intraoperatório avançado

Utilizar o índice bispectral (BIS) para avaliar a profundidade anestésica é uma boa medida, pois ajuda a evitar doses excessivas, que estão diretamente relacionadas ao delírio e à DCPO. Além disso, manter uma boa oxigenação cerebral, controlar a glicemia e a estabilidade hemodinâmica também se mostram fundamentais para minimizar riscos cognitivos.

Reabilitação cognitiva pós-operatória

Caso a DCPO se manifeste, o acompanhamento com neurologistas e terapeutas ocupacionais torna-se essencial para favorecer a recuperação. Para isso, estratégias como jogos de memória, leitura orientada e reabilitação neuropsicológica estruturada exercem um papel relevante na melhora da função cognitiva.

Pesquisas emergentes: biomarcadores e genética

Paralelamente, pesquisas recentes investigam a influência de biomarcadores inflamatórios, como interleucinas e proteína C-reativa, na predisposição à DCPO. Adicionalmente, variantes genéticas como o alelo APOE e4 demonstram associação com maior risco de declínio cognitivo em idosos após anestesia. Dessa forma, a medicina personalizada surge como uma possível aliada na prevenção de complicações cognitivas.

A relação entre anestesia e função cognitiva apresenta complexidade e múltiplos fatores, o que justifica sua constante investigação. Mesmo que estudos indiquem que a anestesia geral, quando bem conduzida, não provoque declínio significativo em idosos saudáveis, continua sendo essencial adotar uma abordagem cautelosa e individualizada.

A adoção de protocolos de avaliação cognitiva, a escolha responsável dos fármacos e o uso de tecnologias para monitoramento intraoperatório fortalecem a preservação da saúde mental dos pacientes.

À medida que a anestesiologia evolui, cresce a responsabilidade de proteger tanto o corpo quanto a mente do paciente cirúrgico. A integração entre anestesiologistas, cirurgiões, neurologistas e psicólogos torna-se essencial para reduzir riscos.

Fale com a equipe da Anesth Solutions e tire suas dúvidas com quem entende de cuidado integral.

Dr. Gustavo Brocca Moreira
Responsável Técnico
CRM 166944 | RQE 80595

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